quarta-feira, 8 de abril de 2009

Senhor Deus,

Sei que a nossa relação não é das melhores. Entre as vezes em que duvido da sua existência e outras em que o chamo das profundezas do meu desespero vamos tendo altos e baixos.

Também sei que deve estar completamente embrulhado nessas confusões mundo a fora, são as criancinhas a morrer, as mulheres a serem violadas, os homens a serem assassinados, são os israelitas, os palestinianos, a eterna África, o Obama que nunca mais chega para salvar este estaminé e muito mais. Eu sei, eu sei, sei que deve ter mais fazer do que ouvir esta rapariga que comparando com o resto do Mundo até tem uma vida jeitosa e que mesmo assim quer mais.

Aí está, quero mais. Por culpa de quem? Sua, pois claro! O ser humano nunca está satisfeito, anseia e deseja sempre mais. Quem é que se lembrou de nos fazer assim? Você pois então!

Mas estes últimos tempos foram mesmo para esquecer, não foram Senhor Deus? Eu sei, eu sei que fui muito feliz num intervalo aí pelo meio. Mas porque é que me fez isso? Se me tivesse deixado afundar-me logo ali no início da derrocada tinha ficado o assunto logo arrumado. Mas não…quis mostrar-me como era possível voltar a confiar, a acreditar, como era possível voltar a gostar de alguém. Sentir-me assim… feliz e completa. Para depois destruir tudo? Para depois descobrir que tudo não passou de um engano, de palavras vãs? Foi para eu me sentir muito estúpida? Ou para me vacinar contra as conversas de galãs? Para que é que foi isto?

Oh Senhor Deus, que raio de crueldade a sua… Mas também o que seria de esperar de um Deus que deixa as criancinhas a morrer de fome?

Diga-me lá o que se faz com as recordações, com as interrogações e com as incredulidades? Já que tem tanta experiência, já que passaram por si tanto Romeu e Julieta, tanta Inês de Castro e muitos mais…Diga-me o que se faz a todos estes sentimentos que me inundam? Porque o Senhor Deus programa aí no seu mega computador o que fazer das nossas vidas mas depois não é o Senhor que tem que passar por estas coisas. Aposto que estava aí na sua nuvem (sim, porque sempre que o imagino vejo-o numa grande nuvem em forma de cadeira) e pensou “hummmm esta rapariga está mesmo a precisar de levar um pontapé no traseiro para crescer um bocadinho”. Sim, eu até sou astuta e já percebi que me está a obrigar a passar por tudo isto para eu crescer, para eu perceber melhor os outros para ser mais tolerante e sábia. Se calhar é merecido, pus-me mesmo a jeito não foi Senhor Deus?

Agora o que eu queria mesmo saber é se vou voltar a encontrar alguém para mim. Não é um alguém qualquer. É O alguém para mim. Está difícil Senhor Deus? É muita gente a perguntar o mesmo?

Não sei se já reparou, mas eu olho à minha volta e só vejo travessias no deserto. É uma grande lição que o Senhor Deus está a dar a muita gente ou é pura crueldade?

Pressinto que a minha está prestes a iniciar-se e não vai ser bonita. Por via das dúvidas peço-lhe antecipadamente desculpa por todas as vezes em que o amaldiçoar, o desacreditar, em que duvidar de si.

Ah, e olhe que eu já aprendi, já cresci, já sou mais tolerante e tudo e tudo e tudo. Pode parar com o sofrimento. É que cansa. Viver assim cansa muito.

Agradecendo a sua atenção, com os melhores cumprimentos, a eternamente insatisfeita procurando sempre mais e melhor,

R.

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